Vinte minutos de entrevista com Romário por telefone podem incomodar
muita gente. Do ex-treinador da seleção, Mano Menezes, ao presidente da
CBF, José Maria Marin. E o tempo ainda é suficiente para a confissão de
um sonho: ver Adriano no América.
O que achou da interdição do Engenhão?
Começo
parabenizando o prefeito (Eduardo Paes) por ter interditado o Engenhão
porque, do jeito que está, poderia acontecer um acidente e, até, morte.
Ele não é o culpado sozinho. Vem de outra administração. É uma vergonha.
Uma falta de respeito com o povo. Um estádio que custou quase R$ 400
milhões vai passar por outra obra! Só pode ser falta de competência dos
profissionais que construíram. Ou, como na política todo mundo quer
ganhar qualquer coisa ilicitamente, podem até ter feito isso sabendo que
um dia o problema aconteceria.
Está dizendo que pode ter sido premeditado?
Pode
acreditar que, em obra com dinheiro público, sempre tem sacanagem. Mais
obra, mais grana do povo vai para o estádio... E as escolas públicas? E
os hospitais públicos? As salas de aula vão continuar sem
ar-condicionado, vai faltar verba para qualificar os professores e,
também, para o material escolar. Vai continuar faltando leito nos
hospitais, com todo mundo amontoado nos corredores. Vai continuar
faltando aparelhagem para salvar vidas. É falta de responsabilidade.
Está preocupado com o futuro do Maracanã?
Tenho
certeza absoluta de que, na Copa das Confederações, o Maracanã não vai
estar 100%. Não sei o que vai faltar, mas não vai estar 100%... Quer ver
uma coisa? A Comissão de Turismo e Desporto vai fazer 12 visitações a
estádios. Nossa primeira visita seria ao Maracanã, mas estão nos
negando... Não aceitaram o dia que determinamos. Isso é prova de que
alguma coisa não está legal por lá. Estamos esperando que remarquem a
data... Brasília e Recife já concordaram em receber nossa Comissão. Irei
a todas as sedes.
Um dos testes do Maracanã, com portões
fechados, será um jogo entre amigos do Ronaldo e amigos do Bebeto.
Sente-se excluído? Participará se for convidado?
Se for
convidado, eu vou. Mas você pode ter certeza de que vou estar sempre
fora. Não vão lembrar do meu nome para nenhum evento, o que é muito bom
para mim porque não concordo com a sacanagem e a roubalheira. Fiquei
feliz quando o (José Maria) Marin (presidente da CBF) disse, numa
entrevista, que sou desagregador na política. É bom mesmo que ele não
goste de mim. Afinal, eu gosto de clareza, honestidade e trabalho. Vou
pelo que o povo gosta. Fico feliz quando pessoas assim querem me tirar
desses eventos. É sinal de que estou no caminho certo.
O que tem achado da seleção brasileira?
Fui
favorável quando contrataram o Felipão e o Parreira. Os jogadores
brasileiros precisavam ter, no comando, caras vitoriosos. Isso passa
confiança. Agora, a seleção está na mão de gente que conhece. Gosto do
Felipão e do Parreira, mas o futebol de hoje não é mais como era em 1994
e em 2002. Eles têm que fazer com que o futebol daqui se modernize a
cada dia. Se não fizerem isso, não vão ganhar. Mas, se a seleção ainda
não está tão boa, eles não têm culpa nenhuma. E digo mais: desde que
assumiram o cargo, a seleção disputou três jogos contra três grandes
seleções. Antes, eram vitórias de Pirro. O Brasil ganhava, mas no fundo
aquilo não valia nada. Nossa seleção, agora, poderia jogar melhor?
Poderia. Mas a gente sabe como funciona na seleção... Os jogadores se
encontram no aeroporto e vão jogar. Acho que estamos num bom começo.
Felipão e Parreira pegaram uma seleção que vinha sendo até
desrespeitada.
Por que o Neymar não rende na seleção tanto quanto no Santos?
Pois
é... Eu queria mesmo falar sobre ele... Em toda Copa tem aquele jogador
que a gente diz: "Esse aí vai arrebentar". Em 2010, eu pensei que esse
cara seria o Luís Fabiano. Não foi, mas eu acreditava. Agora, digo que
será o Neymar. Ele não tem apresentado um grande futebol, mas é ele que
vai trazer o hexa. No Santos, todos jogam pra ele. Então, na seleção
brasileira, todos vão ter que se doar um pouco mais pelo Neymar. Como
aconteceu comigo, na Copa de 94. Como aconteceu com o Pelé, em 70. E com
o Ronaldo, em 2002... E como aconteceu com o Maradona, na seleção
argentina. Todos precisam entender que Neymar é o diferencial do time.
Destacaria mais alguém na seleção?
O
Fred. Desse aí, eu já falava bem lá atrás... Faz tempo... O treinador
antigo (Mano Menezes) não queria convocá-lo por palhaçada. Agora, tem
feito gols e é titular disparado com o Neymar lá na frente. Eu, amante
do futebol, arrumaria uma vaga também pro Lucas, do PSG. E o Oscar é
outro jogador diferenciado.
Seu filho, Romarinho, fez o primeiro gol pelo Brasiliense, na quarta-feira. Como está indo?
Em
Brasília, o campeonato é exatamente como o do Rio. Mas, até o jogo de
quarta-feira, ele só tinha disputado uma partida como titular. Acredito
que, com esse gol, ele vai voltar a jogar. Li uma vez, numa entrevista, o
técnico dizendo que Romarinho só não era titular porque precisava fazer
um gol. Então, acho que deve ter chegado a hora. Ele já fez gol!
O América fez uma proposta ao Adriano. Você, como torcedor, gostaria de vê-lo no time?
Se
o Adriano voltar a ser 40% do jogador que foi na campanha do título
brasileiro (2009) do Flamengo, ele vai fazer muita gente feliz. E vai me
fazer feliz também. Vou à estreia dele. Ou melhor: prometo ir a todos
os jogos do América, quando eu estiver no Rio.
Você ainda acredita no Adriano?
Não
é isso. Não estou dizendo se acredito ou não. Estou dizendo que, se ele
jogar 40% do que jogou na campanha do título, vou lá ver os jogos do
América. E ficarei muito feliz, como toda a torcida.
Tem assistido ao Campeonato Carioca?
Nada.
O que estou vendo aí é a fase ruim do Vasco, que não passa de jeito
nenhum. Mas fica difícil melhorar enquanto o clube for administrado de
forma tão amadora. Desse jeito, nada de bom vai acontecer ao Vasco por
um bom tempo.
Não gostou da contratação do executivo Cristiano Koehler?
Ah,
gostei. Esse aí parece ser sério. Já mostrou que tem palavra. Ele me
ligou outro dia, combinou uma coisa comigo e cumpriu. É de gente assim
que o Vasco precisa. Mas, no campo, ele não pode fazer nada. O time é
fraco.
Acha que São Januário deveria ser usado em clássicos?
Deveria.
Claro, que sim. É um estádio muito bem organizado. Tem problemas, como
todos os outros, mas é confiável. Agora que os jogos foram para o
Raulino de Oliveira, começam a falar que lá tem rachadura. Mais um
estádio feito com dinheiro público! É muita falta de respeito. Lá em São
Januário, você não vai ver esses problemas que estão acontecendo nos
outros. Sabe por quê? Porque é privado. Aí, você cuida com amor.